quarta-feira, 19 de julho de 2017

Adão e Eva foram salvos?



          Para responder esta pergunta que me foi feita no último estudo bíblico na igreja, precisamos saber o que significa ser salvo, segundo a Bíblia (At 16.31). Ser salvo significa nascer de novo, tornar-se filho de Deus (Jo 3.7). Ser salvo também significa receber o perdão dos pecados (Sl 103.3). Ser salvo também significa receber uma nova vida espiritual (II Co 5.17), Ser salvo também significa receber a paz (Jo 14.27; 16.33). Ser salvo também significa ter comunhão com Deus ( I Jo 1.3). 
           A dão e Eva perderam todas estas prerrogativas quando deram ouvidos à voz da serpente e desobedeceram a Deus. Vamos analisar alguns aspectos da salvação e tentar enquadrar os nossos primeiros pais, com o objetivo final de entender a sua real posição hoje e sua influência em nossas vidas.
 
1. a salvação requer- Paulo fala da sua conversão e de como Deus o orientou para que fosse pregar o evangelho aos gentios, para que estes pudessem receber a “remissão dos pecados pela fé em mim” (At 26.15-18). Em Rm 3.10-28, há a explicação de que todos os homens pecaram e, por isso carecem da justiça de Deus. Entretanto, esta só se manifesta pela fé em Jesus Cristo por todos os homens que creem. Quando isto acontece, o homem é justificado pela fé em Deus.
O homem não tem que pagar nada, pois a redenção já foi paga por Cristo, na cruz do Calvário, ao derramar o seu precioso sangue. Ao crer neste sacrifício, o homem alcança a justificação pela fé, sem ter que realizar nenhuma obra prevista na lei de Moisés.
2. a salvação requer arrependimento – em Mt 9.12-13, Cristo fala aos discípulos que queria que eles pregassem, a fim de que os pecadores viessem a arrependerem-se e, ao produzirem frutos de arrependimento (Lc 3.3-8), alcançassem o perdão dos pecados. Haveria festa no céu por apenas 1 (um) que tomasse tal atitude (Lc 15.7). a remissão dos pecados só acontece quando há arrependimento.
O arrependimento deve vir acompanhado do batismo, pois é neste ato que o cristão confessa publicamente que passou a ser uma nova criatura. Fica claro em II Tm 2.25 que o arrependimento é fator primordial para conhecer a verdade que liberta (Jo 8.32).
3. a salvação requer confissão de pecados – em I Jo 1.9 somos ensinados a confessar os nossos pecados, para sermos purificados de toda injustiça. Por haver pecado, o homem se afastou de Deus e, por isso, carece de sua justiça (Rm 3.22-28). Para ter a justiça de Deus novamente a seu favor, o homem precisa crer no sacrifício de Jesus e arrepender-se, para obter a remissão dos pecados e, com o batismo, fazer parte do corpo de Cristo, a igreja. Mas nada disso será possível se não houver o reconhecimento e a confissão de pecados.
Todos os homens pecaram (Rm 3.23). Não existe um só que seja livre disso (Rm 3.10). E aquele que diz não ter pecado, torna Jesus mentiroso (I Jo 1.10). Por isso precisamos confessar nossos pecados, não ao Pastor ou a qualquer pessoa, mas pra Deus e crer que ele nos perdoará e lançará os nossos pecados no ‘mar do esquecimento’ (Mq 7.18-19).
4. a salvação requer o perdão dos pecados – em Rm 4.7-8, o autor da carta comemora a felicidade daqueles que tem os seus pecados apagados. E em Is 53.5, nos confirma que foi pela morte de Cristo que nossas iniquidades foram perdoadas e todas as feridas saradas, sejam físicas ou espirituais. Tudo isso o homem conquista pela fé, com arrependimento e confissão de pecados. Atrelado ao perdão de Deus está o nosso perdão a aqueles que nos ofenderam em algum momento (Mt 6.12). Porque como queremos ter o perdão de Deus se nós não somos capazes de perdoar?
Respondendo a pergunta sobre Adão ter obtido a salvação:
1. a salvação requer fé - Adão e Eva não conheciam o pecado. Quando isto ocorreu, a primeira coisa que aconteceu foi eles enxergarem a sua verdadeira condição de nudez (Ap 3.17). Da mesma forma que eles, muitos pensam que sempre terão tudo, entretanto essa provisão vem somente de Deus.
          Adão e Eva não necessitavam de nada; da mesma forma que Deus disse que supriria todas as suas necessidades, disse também que eles morreriam, caso comessem da árvore proibida. Adão creu no que Deus era capaz de fazer para suprir suas necessidades, mas não teve conseguiu contagiar a sua companheira com fé suficiente para crer no que poderia acontecer se desobedecessem. Em algum momento nossa fé tem de influenciar as pessoas a nossa volta.
2. a salvação requer arrependimento - O arrependimento aconteceu no momento em que eles se reconheceram nus (Gn 3.7). É a sensação que qualquer pessoa correta sente ao perceber que errou: o chão parece que se abre aos seus pés. Um misto de tristeza e solidão acompanham todo aquele que comete pecado e sabe que errou. Adão procurou esconder-se com sua mulher, tamanho era o seu desapontamento consigo mesmo (Gn 3.8). Mas de Deus ninguém se esconde (Sl 139.7-10). O melhor a fazer é reconhecer e não pecar mais, mudar de atitude (I Jo 3.6). Foi o que Adão fez. Saiu de seu esconderijo e enfrentou as consequências do seu ato. E esta sua saída foi atendendo a um chamado de Deus, que continua até o dia de hoje a todo pecador, pois Ele sabe que é a única maneira de reconciliação.
3. a salvação requer confissão de pecados - A atitude inicial de Adão e Eva em se esconderem estava relacionada à novidade da situação provocada pelo pecado. Não havia nenhuma experiência anterior que pudesse determinar a eles o certo a fazer em tais casos. Entendendo isso, Deus tratou de ensiná-los o que fazer. A primeira coisa é não se esconder. De Deus ninguém se esconde. Então, assim que pecamos, devemos nos apresentar imediatamente confessando nossos pecados recém cometidos.
          A palavra de Deus relata que todos os dias Deus visitava Adão, por ocasião da viração do dia. Neste dia, por estar escondido Deus precisou procurar por ele (Gn 3.8). Embora saibamos que não podemos nos esconder, Adão não sabia e Deus precisou mostrar isso a ele e também a Eva. Quando os encontrou houve a confrontação em relação ao ato praticado em desobediência ao que Deus havia determinado. O mais importante a ressaltar foi que Adão não negou o ocorrido, mas não admitiu ser o agente e sim o paciente da ação, já que foi Eva quem o fez comer o fruto (Gn 3.9-12).
          Deus mostrou para eles a necessidade de contarmos as nossas transgressões com a nossa própria boca. Isso demonstra que somos falhos e dependemos do perdão de Deus para reatarmos nossa relação com Ele ( I Jo 1.9).
4. a salvação requer o perdão dos pecados - O decreto de Deus em relação à desobediência seria a morte de quem desobedecesse. Adão e Eva morreriam no dia em que tomassem do fruto proibido para comer (Gn 2.16-17). Esta morte não foi esclarecida se seria espiritual ou física. A morte espiritual não passava na cabeça deles, pois seria inadmissível viver sem Deus. Acredito que eles pensavam que morreriam fisicamente, tão logo provassem do fruto. Entretanto isso não aconteceu e o que perceberam foi a sua nudez. Talvez eles pensassem que a morte os privaria de permanecer no jardim, mas ainda assim estariam com Deus. Nada disso se concretizou e o que eles perderam foi a comunhão com Deus.
           Quem morreu foi um animal e a sua pele serviu para que Deus cobrisse a sua nudez (Gn 3.21). Deus mostrou para eles a origem de todo o cerimonial de sacrifício de animais, a fim de que o perdão dos pecados fosse concedido ao homem. Isso apontava para Cristo, o nosso Cordeiro pascal e, ao mesmo tempo, ensinava ao homem que nada do que ele fizesse poderia tornar a ter a mesma comunhão inicial com o Pai. Somente em Jesus teríamos essa bênção novamente (Is 61.10; Rm 6.23).
           Para responder à pergunta inicial precisamos entender como funciona o processo de salvação: ao homem está decretado morrer em seus delitos e pecados (Ef 2.1) e viver uma vida eterna sem Deus, a não ser reconheça que é pecador, confesse seus pecados e aceite que o sacrifício de Cristo Jesus é o único suficiente para que seus pecados sejam perdoados (I Jo 1.9). Ao fazer isso ele encontra o perdão de Deus, terá de conviver com as consequências dos seus atos, mas terá a garantia de morar eternamente com Deus, quando sua passagem pela Terra terminar ou ser arrebatado por Cristo (II Co 5.21).
           Acredito que Adão e Eva estejam na mesma situação de todos os homens e mulheres do antigo testamento. Eles admitiram a sua culpa, creram que somente o sacrifício por sangue os livraria do castigo do pecado, realizaram sacrifícios de animais, para substituir as suas próprias vidas e, principalmente, creram que a profecia de Gn 3.15 aconteceria um dia e, de uma vez por todas, ficariam livres do pecado e tornariam a ter comunhão perfeita com Deus. E o mais importante foi o que passara para seus filhos como ensinamento (Gn 4.3-4). 
           Neste sentido Adão aguarda a redenção final e eterna de todos os homens e, naquele grande dia, ressuscitará primeiro, junto a todos os santos que morreram crendo em Cristo, ou na promessa dele. (I Ts 4.13-17) Acredito que chegaremos lá e nos encontraremos, pois como ele convivemos com as consequências do pecado, mas não estamos mais na situação de escravos dele e em Cristo temos novamente comunhão com Deus (I Jo 1.3).

Édison da Silva Gonçalves é Pastor Auxiliar da Igreja Evangélica Cristo para as Nações, em Uruguaiana-RS.  

domingo, 9 de julho de 2017

A CEIA DO SENHOR

I Co 11.17-34

     v. 17-18 – nestes versículos o apóstolo Paulo alerta aos coríntios que as suas reuniões não são para uma coisa boa e nisto eles foram reprovados e não são merecedores de elogios. Esta atitude dele foi porque alguém da comunidade informou a existência de divisões dentro da igreja.

     v. 19 – Paulo fala que as divisões em certo sentido é boa, pois é através dela que aqueles que são verdadeiros cristãos são diferenciados daqueles que só aparentam serem crentes.

     v. 20-22 – quando os cristãos primitivos se reuniam para celebrar a comunhão era costume realizar uma refeição comunitária em conjunto com a celebração da Ceia do Senhor. O Apóstolo fala que a reunião da ceia deveria ser celebrada como um exemplo de união, porém as pessoas estavam preocupadas apenas em se alimentar e parece que os mais abastados esqueciam dos mais pobres e comiam o melhor da festa sim se importar com quem viesse depois. Havia um total descaso com o outro. Ninguém se preocupava com o ‘bem-estar’ coletivo, apenas com o encher a sua própria barriga. Ele alerta que para encher a barriga era em suas próprias casas que isso deveria ocorrer. E isto ele estava reprovando dos coríntios.

    v. 23-25 – nestes versículos ele começa enfatizando que o que ele ensinava teria recebido diretamente do Senhor, portanto tinha a máxima autoridade para orientar a qualquer um sobre a ceia. E então passa a recordar o que aconteceu na noite da ceia, embora ele não estivesse presente, pode ter recebido as informações diretamente de quem esteve presente no local. Isso não seria nenhum problema, considerando que essa carta foi escrita apenas mais ou menos 20 anos após os eventos ocorridos.

     v. 26 – ele fala do objetivo da cerimônia que é ‘anunciar a morte do Senhor até que Ele venha’. Este anúncio é feito através do próprio ato de comer o pão e beber o vinho. O pão significa o corpo de Cristo que foi morto na cruz e o vinho o Seu sangue que, da mesma forma, foi derramado para a remissão dos pecados.

    v. 27-29 – ele trata das consequências de comer o pão e beber o vinho com indignidade. Indignidade é uma ação injuriosa ou afrontiva. Quem é indigno é ordinário, inconveniente e desprezível. Na esfera jurídica o significado da indignidade são mais fortes e abrangentes que na linguagem comum. No direito brasileiro uma indignidade é causa de deserdação, a exclusão do herdeiro de receber sua herança. A expressão ‘réu do corpo e do sangue do Senhor’ fala da possibilidade de sofrer julgamento aquele que assim proceder. Em algumas traduções é dito ‘culpado do corpo e do sangue do Senhor’, ou seja, deixa de ser réu e já está condenado.

     v. 28 – por isso a necessidade do exame individual antes de participar da ceia. E após ao exame, não deixar de participar. Nenhum pecado é tão grave que impeça qualquer pessoa de tomar da ceia. O importante é que neste exame haja o reconhecimento da culpa, o pedido de perdão e a fé de que foi perdoado. Esta expressão ‘examine-se’ traz uma ideia de que ao final do processo, a pessoa se sinta aprovada. Então diante disso ela tenha plena capacidade de participar normalmente da cerimônia. Esta ideia de aprovação vem do grego ‘dokimós’ , que é a mesma palavra que Paulo usa em II Tm 2.15, com respeito de como deveria ser aquele que almeja o ministério pastoral. Os dokimós eram homens que trabalhavam na conferência do peso das moedas, atestando que não houve adulteração e que continham o valor nelas especificados. Eles utilizavam balanças para pesar o dinheiro e com o resultado do peso sabiam se houve ou não falsificação. Estes homens ficavam acima de qualquer suspeita e eram escolhidos ‘a dedo’ e gozavam da maior confiança seja dos banqueiros seja da população em geral. Eram homens dignos, aprovados.

     v. 29-30 – por isso a necessidade de ‘comer discernindo o corpo’. Este é o versículo chave das instruções para a ceia. O que nos faz diferentes de qualquer religião, é termos um Deus que é a cabeça e nós o seu corpo. Quando Paulo inicia a fala aos coríntios, ele reprova a atitude deles de não serem corpo, ou seja, não agirem em união. Quando eu como o pão, torno-me um com ele; nos unimos. Quando todos comemos do mesmo pão, nos tornamos um com o pão e entre nós. Se o pão representa o corpo de Cristo, significa que estamos nos tornando um com Ele, simbolicamente. Esta é a chave da participação: pelas feridas sofridas por Cristo na cruz, eu fui sarado (Is 53.4-5). Não há mais condenação para os que estão com Cristo (Rm 8.1). A questão de ser aprovado não está ligada ao fato de termos ou não cometido pecados, ou termos ou não confessado estes pecados. Porque aquele que está em cristo é nova criatura (II Co 5.17). E por ser nova criatura não vive pecando (I Jo 3.6). A questão está em saber qual é a minha função no corpo. Entender que eu sou importante para o andamento do corpo. E a participação na ceia é a celebração desta comunhão do corpo. Cada membro deve entender e discernir isso, pois o julgamento ou a sentença não trazem uma condenação de perda da salvação, mas de castigos temporários como doenças e até mesmo a morte prematura.

     v. 31-32 – atesta a necessidade de alto exame, pois assim evitaríamos o julgamento tanto dos outros homens como do próprio Deus. Entretanto, ao sermos julgados por Deus, somos disciplinados por Ele. Pois somos seus filhos, herdeiros da promessa. E Ele nos quer bem.

      v. 33-34 – este é o coroamento da instrução do apóstolo: ‘esperai uns pelos outros’. O que motivou a orientação foi exatamente a falta de companheirismo dos coríntios na ministração da ceia. Mesmo que em forma de banquete. Se eles comecem em comunhão não haveria problemas, mas ao desprezarem os mais pobres eles estavam fazendo acepção de pessoas. E isso para Deus não é admissível, pois Jesus Cristo morreu para todos; seu corpo foi moído por todos igualmente; seu sangue foi vertido igualmente por todos; então a participação na cerimônia que celebra este Seu sacrifício por todos e anuncia a Sua 2ª vinda para todos aqueles que o amam, deve ser discernida e participada por todos em comunhão. Se o objetivo é um jantar de confraternização, façamos em nossas casas, ou marquemos um dia diferente da Ceia do Senhor.

Édison da Silva Gonçalves é Pastor Auxiliar da Igreja Evangélica Cristo para as Nações, em Uruguaiana-RS.